01/03/2005

Episódio XIII do 2º livro

Libertou-o...deixou fugir os pés e as mãos e os braços que mantinha seguros com o coração e a mente. Libertou-o num acto saudável de querer tanto que fosse feliz. Libertou-o e libertou-se ao mesmo tempo sem saber muito bem de quê e para quê. Deu-lhe o espaço que afinal nunca tinha sabido ocupar. Deu-lhe a voz que nunca tinha sabido ouvir. Deu-lhe a vida que nunca tinha sabido aproveitar.

Ele não compreendeu muito bem o que estava a acontecer mas viu-se de uma outra forma naquele instante. Segurou a vida e caminhou em frente. Não com ela..mas com a sombra dela num passado marcado pela paixão violenta e demente, pelas horas de sexo inteiro, pela recordação eterna dos instantes em que faziam amor com o roçar da ponta dos dedos na pele um do outro...

19/01/2005

Para o Cyr (amante e amigo...)

Ele escrevia-lhe pensamentos, notas, recados...Deixava-os na secretária dela, na caixa de email, na mesinha de cabeceira...Ela guardava-os com carinho...com delícia...para relê-los a toda a hora...

"Estranho é o sono que não te devolve. Como é estranho o sossego de quem não espera recado. Essa sombra como é a alma, de quem já só por dentro se ilumina, e surpreende e por fora é apenas peso de ser tarde. Como é amargo não poder guardar-te em chão mais perto do coração. E tu baloiças pelos olhos dentro, inundando de paisagens a minha ceguez."

Para ti Cyr, com amor. Feliz Aniversário e Mil Beijos

30/11/2004

Episódio XII do 2º Livro

Deitou-se na cama. Os lençóis gelados não proporcionavam o conforto que desejava mas o cansaço do dia que terminava prendia-lhe o corpo num sono eminente. E neste estado de semi-dormência do espiríto ouviu a porta que deixara entreaberta fechar-se devagar. Uns passos seguros e familiares atravessaram o espaço e sentiu a suavidade de uns dedos frios no cabelo e no pescoço. Uns lábios mornos e entreabertos depositaram-lhe no ombro um beijo. Um compasso de espera. O ruído quase imperceptivel da roupa que era colocada na cadeira junto à cama. O calor de um sol feito corpo masculino que se deitou e aconchegou no corpo dela como se fossem duas peças únicas de um puzzle que não conseguiam existir uma sem a outra. E o mundo voltou a fazer sentido.

06/11/2004

Episódio XI do 2º Livro

..deitado de barriga para baixo, a cara em repouso na almofada alva...ela contemplou os contornos do corpo e deitou-se devagar por cima dele...e era sempre como se fosse a primeira vez que sentiam a suavidade da pele e a vontade de se entregarem...Ele sentiu a dureza dos mamilos nas costas e estremeceu...o rosto impassível esboçava um leve sorriso...Ele sentiu o sexo dela húmido e quente que roçava lentamente nas suas nádegas e que se abria mais...Ela pediu-lhe que se voltasse e a pairar na cara dele deixou que a língua dele a violasse...

20/09/2004

Episódio X do 2º Livro

No fundo, Lígia sabia amar mas não sabia ser amada. Lígia sabia dar mas não sabia receber. Ligia renegava o direito de ser feliz. Nunca lhe parecia justo usufruir desse direito. E acreditava fervorosamente que era este o seu fado, o seu destino.

E numa noite mágica aconteceu: experimentou uma felicidade sem nome, algo tão forte que ultrapassou os limites da normalidade, uma comunhão de corpos e almas que se fixou no espaço intemporal.

Não sabia lidar com tanto...não conseguia sobreviver...Interagia melhor com a dor intensa e profunda do que com a felicidade e a dávida...

E no instante em que lhe disse que não o queria mais sabia que o que perdia com essa sua decisão não se limitava ao amor: desperdiçava com essa atitude a sua segurança, o seu equílibrio, o seu porto de abrigo, quebrava as amarras com o cais onde descansava sem qualquer sobressalto.

Umas semanas depois a saudade era o fardo mais pesado do mundo e a lembrança dos momentos partilhados era o botão para um choro copioso e uma noite em branco. Lígia prendia a alma em desespero ao que entendia como a verdade maior do Universo: ela não tinha vindo ao Mundo para ser feliz mas sim para fazer os outros felizes e este era o único consolo que a mantinha enquanto os braços enrolados à volta dos joelhos marcavam o balanço do corpo...ininterruptamente.

10/07/2004

Episódio IX do 2º Livro

Ligia amava-o e odiava-o. Em certas altura odiava-o mais. E no minuto a seguir desejava-o mais. E nada fazia sentido. E a vida desenrolava-se sempre cada vez mais mais depressa. E Ligia perdia a capacidade de fazer parar o tempo nas mãos dela. Como outrora...

17/06/2004

Episódio VIII do 2º Livro

Perderam-se na cidade. Lígia garantira que sabia o caminho. Riam da situação embaraçosa. Deram voltas infindas. Passaram pelos mesmos cruzamentos duas vezes. Ele não podia garantir mas quase apostava que Lígia infrigira mais do que uma regra de trânsito. Riram muito. Era bom andarem perdidos.

Era bom perderem-se um ao lado do outro. Porque sabiam que estando juntos..era o Mundo inteiro que os perdia a eles...

14/06/2004

Episodio VII do Segundo Livro

Escorregou com as mãos pelo corpo dela abaixo quando a sentiu cansada. Gostava de vê-la assim, nua, de costas, com o corpo abandonado e em descanso, depois do sexo... Transmitia uma luz pura, aquele corpo que antes tinha vibrado ao ritmo que ele impunha e determinava, aquele corpo que se dava ao prazer de uma forma tão verdadeira e sem subterfúgios...

Ele detestava pensar que corria o sério risco de um dia viciar-se naquele corpo, naqueles espasmos orgásmiscos, naquele choro entrecortado de gemidos...mas sonhava acordado com a próxima posse...a próxima vez...E não conseguia libertar-se do gosto de Ligia...

Regresso

Caros leitores,

A suspensão do blog era por tempo indeterminado. Esse tempo de pausa chegou ao fim. Recomeço hoje a escrever, sem prazo nem frequência fixa. Tive saudades...

Com amor
Lusitana

01/05/2004

Até breve...

Caros leitores,

Vou suspender a minha actividade neste blog por tempo indeterminado ainda que continue on-line.

Quero agradecer a todos quantos o visitaram e continuem a visitar e a todos o meu desejo de que sejam sempre felizes e aproveitem tudo o que de bom esta vida vos ofereça. Arrependam-se apenas daquilo que não fizeram.

Com muito amor e paixão,
Lusitana

29/04/2004

Episódio VI do 2º Livro

Ligia ligou-lhe a meio da tarde.

"- Tou? Ligia?..."

"- Sou eu..."

Seguiu-se apenas um silêncio de alguns segundos...um suspiro profundo....e Ligia desligou.

Recebeu uma mensagem pouco depois: "Ninguém me abraça como tu. Adoro-te"

Ela respondeu: "Ninguém me enfeitiça como tu. Amo-te"

21/04/2004

Episódio V do 2º Livro

Ligia completava 29 anos dali a alguns dias. Ele perguntou-lhe até uma semana antes e milhentas vezes o que gostaria que ele lhe oferecesse. Ela respondia a rir:

"- Nada..."
para logo a seguir dizer:
"- Tudo..."

Ele sorria perante estas respostas porque ela era, por vezes, como uma criança: ingénua, doce e terna.

No dia do aniversário, ao entardecer, Ligia regressou a casa e pressentia que alguma coisa não estava bem. Tinha aguardado todo o dia por um convite para jantar, por um ramo de rosas, por qualquer sinal da parte dele. E nada...

Abriu e porta e ele estava sentado no chão do hall. Levantou os olhos iluminados pela presença de Ligia e abriu os braços ao mesmo tempo que se levantava e avançava para ela:

"- Parabéns, querida...Vem comigo..."

Pegou-lhe na mão e levou-a até ao quarto. A cama estava feita, apenas com os lençóis de cetim branco. Em cima da mesma, uma caixa aberta com um conjunto de lingerie preto.

"- É lindo ! - gritou Ligia...Obrigada, amor ! "

Dispôs-se de imediato a experimentar e trocou-se em segundos. Olhou na direcção dele e ficou desconcertada quando, encostado à cómoda, o viu tirar uma fita de seda preta do bolso das calças.

"- Senta-te na beira da cama..."

Colocou-lhe a venda nos olhos, deu um nó suave e beijou-a na boca devagar.

"- Não era o teu presente todo..esse conjunto que te faz ainda mais deusa do que já és para mim..."

Ligia ouviu os passos dele até à porta e depois um silêncio cortado por algo que juraria ser um sussurro mas que não conseguiu identificar de imediato. Pressentiu a presença de mais alguém no quarto quando de repente sentiu nos joelhos um toque delicado. Uns dedos suaves que subiram lentamente pelas pernas. Não eram os dedos dele. Dir-se-iam de mulher. Disso tinha quase a certeza. Ouviu a voz dele que vinha do canto da divisão...do sofá, juraria...

"- Não te inquietes. Eu estou aqui... É ela a tua prenda de aniversário"

Um pouco assustada mas completamente rendida à suavidade que aqueles dedos transmitiam ao seu corpo deixou-se acariciar...As mãos subiam das pernas para a barriga e depois para o peito que começou a arfar discretamente.
Sentiu uns lábios frescos no pescoço e que desciam agora para o peito que era desnudado pelas mãos ao mesmo tempo. Sentia-se perturbada e excitada. A língua percorreu em circulos os mamilos duros e o efeito foi electrizante para Ligia. Rendida ao desejo e ao prazer que a desconhecida lhe provocava sentia uma vontade inconfessável de arrancar a venda. Resolveu transformar essa vontade em gestos e actos de sedução, em prazer sexual...

Deitou-se na cama e sentiu um corpo de mulher a tocar o seu por inteiro. Deu-se também ela por inteiro.
Experimentou um prazer que tinha apenas imaginado um dia, proporcionou prazer a uma mulher, pela primeira vez, e sentia-se feliz por isso.

No fim de tudo, ele retirou-lhe a venda, não sem antes a beijar, como tinha feito ao inicio e Ligia pode ver o rosto da desconhecida. Era linda. Sorriram ambas.

Quando mais tarde se deitaram lado a lado, Ligia abraçou-o muito tempo e declarou-lhe que tinha adorado o presente de aniversário mas que gostaria de ter partilhado a prenda com ele. Ele fixou-a, sério, e perguntou:

"- Será que tu existes, de verdade...?

Ela atirou-lhe uma almofada à cabeça:

"- Existo porque tu existes em mim..."

30/03/2004

Episódio IV do 2º Livro

Chovia muito. O céu estava cinzento escuro e o frio atravessava os casacos e penetrava nos corpos como espadas afiadas. As pessoas caminhavam encolhidas tentando combater e vencer o frio e a chuva que as engoliam.
Lígia ficou assim, à janela, a contemplar os transeuntes enquanto bebia o chocolate quente. No quarto a temperatura era boa e o ambiente acolhedor. Ele ainda dormia.
Lígia pousou a mão no peito dele e percorreu a partir dali todo o corpo com uma suavidade e ternura perfeitas. Lentamente ele foi acordando, o corpo e o espírito. Sentou-se na cama. Puxou-a para ele e beijou-a:
- Tão bom acordar assim...Em todos os teus gestos sinto paixão, no teu olhar leio a vontade de dar e receber carinho. Sou um homem de sorte!

E ficaram ali a falar e a fazer planos para o fim de semana...a contar novidades...a relembrar a infância de cada um.

A certa altura falaram de família e Lígia endireitou o corpo. A expressão alterou-se um pouco. Ele percebeu que era sério o que estava prestes a escutar.

- Gostava de te provar o meu amor. Ainda mais. Gostava de provar que te amo mas de uma forma concreta, viva e eterna. Gerar um filho teu seria a sublime prova do que sinto por ti.

Ele ficou em silêncio e Lígia quase jurava que os olhos dele se encheram de lágrimas.


(a partir da leitura do post de 29 de Março de 2004, da autoria de Konstantin Gravos - http://sexoverdade.blogspot.com)

26/03/2004

Episódio III do 2º Livro

Bateu com a porta quando entrou. Ela estava a ler na sala e estranhou a violência do gesto. Ele entrou de rompante, furioso e com o rosto alterado:

- Tive um dia horrível. Estou completamente exausto. Trabalho por todos!!!

Acalmou por instantes quando viu os olhos dela , assustados, em pânico silencioso...a boca entreaberta...o corpo duro e tenso...

Ensaiou um sorriso diabólico:

- Sabes do que precisava agora?
- Não...- respondeu Lígia a medo por não saber o que poderia acontecer a seguir.
- De possuir-te...de descomprimir a fúria e a raiva dentro do teu corpo... de sentir-te minha, desprotegida, e com medo....

Avançou para ela, agarrou-lhe no braço e forçou-a a levantar-se. Num gesto seco arrancou-lhe os botões da camisa que se espalharam pelo chão. Quando sentiu que os braços dela se fechavam docemente na sua cintura, rejeitou-os.

- Não quero a tua doçura. Quero FODER-TE como quem fode uma puta !

Puxou-lhe o soutien para baixo e enterrou a cara no peito dela, sofregamente e com as duas mãos abertas em concha sobre ele. Chupou-lhe os mamilos, sugou-lhos com força. Lígia gemia baixinho mas ao mesmo tempo resolveu entrar no jogo. As mãos dele, com a rispidez dos primeiros movimentos puxaram-lhe as calças para baixo e depois as cuecas que ficaram à altura dos joelhos.

Arrastou-a até à mesa da sala de onde varreu com a mão tudo o que lá se encontrava. Tirou ele próprio as calças e fê-la pegar no sexo dele:

- Sente!! Sente a dureza que me provocas, bitch !!! És tu a culpada !

Ajoelhou-se em frente a ela e agarrou-a pelas nádegas, penetrando com a língua no sexo dela, sem pedir licença. Estava húmido e quente e ele usou lábios e língua para provocar-lhe um orgasmo que sorveu de imediato.

- Porca! Vieste-te na minha boca!

Levantou-se e virou-a de costas. Fê-la dobrar-se na mesa.

- Vais pagar pelo que fizeste, vaca !

Não hesitou nem se comoveu ao ouvir o grito lancinante de Lígia quando esta sentiu a força brutal do sexo dele a entrar sem piedade dentro dela. O corpo dele encharcado em suor continuou por mais algum tempo a vibrar contra o dela. Puxava-lhe os cabelos e agarrava-lhe no peito enquanto lhe chamava nomes ao ouvido.

Veio-se dentro dela, virou-a para ele e beijou-a com vagar...lentamente...num abraço quente....

- Adoro-te, sabias?


25/03/2004

Episódio II do 2º Livro

Lisboa, 25 de Março de 2004

Escrevo-te esta carta sem saber muito bem porquê. Escrevo-te esta carta porque tive vontade de descrever o que me ia na alma e quis que ficasse registado para que mais tarde pudesse reler estes pensamentos que me assolam a mente. Escrevo-te esta carta porque sei, hoje, que tu és tudo para mim, e isso nunca vai mudar. Venha o que vier, aconteça o que acontecer...Costumam dizer que na vida só temos a certeza da morte. Não é assim. Eu, por exemplo, tenho também a certeza que te amo e que quero partilhar contigo os bons e os maus momentos. Sou inconstante nos humores, sou indecisa nos pormenores mas há uma parte de mim que sabe muito bem o que quer e o que sente.

Venham os amargos e os doces episódios, venham as tempestades e as bonanças que se lhes seguem, venham as dores e os risos, venha a VIDA...Enfrento-a com o meu corpo e o meu espírito impregnados de vontade de passar por ela deixando a minha marca e o meu cunho. Contigo a meu lado sou capaz de tudo.

Um beijo

19/03/2004

Episódio I do 2º Livro

Perderam-se nos braços um do outro, muitas vezes, nos dias que se seguiram. A paixão irrompia pela pele, pelo olhar. Até as pessoas com quem se cruzavam na rua sentiam um vento forte e quente que não sabiam entender, uma força gigantesca que as atingia como uma onda de calor invisível. Ligía conhecia esses sinais e ria por dentro por serem eles que provocavam todo esse tumulto por onde passavam.

Amaram-se em todas as divisões da casa. De uma vez, ao voltarem de um jantar tardio, experimentaram o vão das escadas do prédio e de costas para ele, semi-nua e encostada à parede fria, abafou os gritos que ameaçaram acordar toda a gente.

Ele conseguia deixá-la completamente desvairada. Com ele soltava a língua, a imaginação, as vontades mais caladas. O sexo era sem-pudor, intenso e maravilhoso. Quando, a sono solto, exausto, ele descansava por instantes, não raras vezes era acordado pelo som de uma mensagem recebida no telemóvel. Estremunhado e a murmurar palavrões pela hora imprópria, lia:
- Vem cá. Quero foder-te outra vez.

Levantava a cabeça a sorrir e do outro lado do quarto, Lígia sentada na cadeira de braços, fixava-o provocante e sensual, como só ela sabia ser.

08/03/2004

Episódio XXIX - Sou teu

Esperou nervosa o cair da noite. Ele bateu à porta quase imperceptivelmente. Os passos dela apressaram-se pela sala, pelo hall... Abriu a porta e um sorriso soltou-se pela casa toda.

Ele abriu os braços e ficaram assim colados por muito tempo. As bocas procuraram-se, ardentes, e o beijo foi o mais profundo das suas vidas.

Ele pegou-lhe no rosto com as duas mãos:

"- Não me deixes ir embora nunca mais...não posso viver sem o teu amor...sem a tua fúria de viver...sem a tua voz dentro de mim...és um presente dos Deuses que eu não sei se mereço mas sei que quero...amo-te como és..."

06/03/2004

Episódio XXVIII - O Regresso

Passaram-se muitos dias e Lígia perdeu-lhes a conta. Cravara as energias no trabalho e com afinco cumpria todas as tarefas como se fossem de vital importância para a sua sobrevivência e para evitar o desmoronamento emocional.
Nao compreendera muito bem as razões que o tinham levado a sair da vida dela mas não queria pensar nisso. Para ela qualquer que tivesse sido o motivo, era inválido e desprovido de senso.

Naquela tarde o telemóvel tocou. O toque que ecoou no gabinete era o que ele em tempos lhe enviara e que gravara com carinho. Era o toque dele. Não esperou, não pensou, não reflectiu: atendeu...

" - Lígia.."
" - Sim. Como vais?..."
" - Tenho saudades tuas..."
" - Volta. Espero por ti hoje à noite..."
E desligou.

Ficou ali parada a olhar na direcção da janela mas não via nada. Os olhos abertos, o sorriso aberto, duas lágrimas a escorrer pelo rosto e a dizer baixinho ..."meu amor, meu amor..."

02/03/2004

Episódio XXVII - O Fim

Não precisou de ouvir muitas palavras. Não precisou de explicações inúteis. Bastou-lhe uma leitura atenta do olhar e das mãos dele que não conseguiam coordenar um movimento coerente.
O fim surgiu inesperadamente para Lígia. Desmoronaram-se os castelos que erguera durante meses. A vida fugia-lhe agora sem conseguir agarrá-la. Sentia a alma num turbilhão de lava e fogo. Queria morrer...

Ouviu a porta a bater e prostrou-se no chão, enrolada sobre o próprio corpo, num choro silencioso, dorido e sincero. Esteve ali muito tempo. Não sabia quanto. Ouviu-se dizer:

"...amo-te como nunca foste amado...da forma mais pura e desprendida que há memória...amo-te como uma louca que perdeu o sentido da razão...amo-te e nunca to soube dizer...assim..."

01/03/2004

Episódio XXVI - Espera

Lígia esperava permanentemente por ele. Se ele não estava, esperava o regresso, ansiosa. Se ele estava, esperava as palavras, os beijos, as ternuras. Era uma espera sem fim. Já não ansiosa como no início do romance, já não inquieta e insegura. Era uma espera silenciosa mas com uma luz própria. A luz da certeza de ser correspondida naquele amor que lhe corria pelo sangue e pela alma inteira.

29/02/2004

Episódio XXV - Poema

O poema da felicidade
Já foi cantado

O poema da paixão
Já foi chorado

O poema do amor
Já foi sentido

O poema perfeito
Somos nós...

20/02/2004

Episódio XXIV - Egoísmo

Amar como Lígia amava...querer como Lígia queria...Raras vezes tinha noção que se tornava egoísta e quase insensível aos sentimentos dele, às coisas dele. Pensava exclusivamente nos seus desejos, no seu bem-estar e exigia demais. De quando em vez, caía das nuvens e arrependia-se profudamente dessa maneira implacável e exacerbada de gostar. E da mesma forma sincera e humilde com que o amava tanto...pedia desculpa...

Episódio XXIII - Doce

Ele chegou tarde e cansado. Lígia aguardava-o, nervosa, inquieta, como um animal enjaulado que não consegue alcançar a sua presa. Recebeu-o com um abraço efusivo, um beijo sonoro, um sorriso de promessas.
Fê-lo sentar no sofá. Descalçou-o. Ajoelhou-se à frente dele e puxou o corpo dele para perto do seu.
Acariciou-lhe o rosto enquanto lhe beijava os olhos. Tocou-lhe nos lábios com a ponta dos dedos. Trincou-os devagar...primeiro um, depois o outro, e disse-lhe num múrmurio, com a boca colada ao pescoço dele:
-"És doce, és de mel...Deixa-me desapertar a tua camisa para sentir mais desta tua doçura.."
-"Deixa-me passar as mãos abertas pelo teu peito e descer com a boca até aos teus mamilos...deixa-me saboreá-los e tocar-lhes com a língua hirta..."

Desceu-lhe as mangas da camisa fazendo-as resvalar num gesto pelos ombros.

-"Deixa-me encostar o meu peito ao teu...deixa-me mostrar-te pelo contacto da pele como estou excitada.."
-"Desaperta a minha camisa..eu deixo e venero os teus dedos enquanto o fazes..."

Interrompeu-lhe o gesto para lhe molhar um dedo que fez depois deslizar em círculos pelo mamilo duro...

A primeira luz da manhã que irrompia pelas frinchas das persianas acordou-os num gesto preguiçoso e lento...

Episódio XXII - Mensagem

Desejaram-se um bom dia e saíram para trabalhar. A meio da manhã Lígia enviou-lhe uma mensagem:

"...quisera eu ser essa chávena onde pousas devagar os lábios para beber o café quente..quisera eu ser a caneta que pegas tantas vezes para trabalhar...dói-me a tua ausência..."

15/02/2004

Episódio XXI (3ª e última parte) - Dia dos Namorados

Caía a noite. A lareira espalhava uma luz amarela e quente pelo salão. Optaram por ficar no chão em cima da carpete branca e felpuda enquanto degustavam as iguarias deliciosas que ele havia escolhido para a ceia de ambos. Comiam devagar. Como um ritual antes do sexo que ambos desejavam e sabiam.Viraram-se um para outro para brindar com o champagne e comeram-se com os olhos. Ele viu-a como tinha pedido: mais doce, mais bonita e mais sensual que nunca. Inclinou-se para ela e sussurrou-lhe ao ouvido:
"- quero comer-te..."
Ela ouviu a voz dele como sempre acontecia:uma voz que se tornava física, com corpo, provocatória e excitante. Sentiu uma onda de calor e frio. Ele sorriu, um sorriso inquieto e desconcertante, enquanto levava as costas da mão ao peito dela que, através da blusa, deixava transparecer a dureza dos mamilos. E foi com o mesmo sorriso que lha tirou e em simultâneo subiu com a língua do umbigo até ao pescoço.
Ela abandonou-se e deitou o corpo na carpete. Ele ficou sentado a observá-la, a beber o champagne, guloso, a controlar a vontade doida que o assaltava, numa tentativa conseguida de torturar a espera a que os obrigava deliberadamente. Naquelas alturas via-a com uma luz diferente, envolta numa aura de claridade e sensualidade indescritíveis.
Pegou num cubo de gelo e percorreu com ele os pontos que sabia mais delicados e sensíveis. Demorou-se no peito, deixou escorrer umas gotas de água que depois lambeu e substituiu até ao ponto de ser apenas a saliva dele que a humedecia. Enquanto isto, ela pegou-lhe numa mão e beijou-a...dedo a dedo....trincando ao de leve cada um. Escolheu o polegar e fechou sobre ele a boca, sugando devagar, e lambendo a espaços a ponta do dedo.
Ele pensou que ia explodir com tanto desejo. Inclinou-se sobre o corpo dela com a intenção de a penetrar naquele instante mas ela fez-lhe um sinal negativo com a cabeça. Sem perceber o que se passava, viu-a soerguer o corpo à frente dele e virar-se de costas, apoiada nos joelhos e nas palmas das mãos.
Foi a sentir-se completamente delirante que descansou, enfim..ainda com os ecos dos gemidos profundos e levemente dolorosos que havia provocado em Lígia.

14/02/2004

Episódio XXI (2ª Parte) - Dia dos Namorados

A cabana ficava isolada da aldeia. Mais acima na serra, rodeada de pinheiros, surgia no fim do caminho de pó como uma casa rústica de um conto de ficção. Já tinha ouvido falar dela: pertença conjunta de um grupo de amigos era usada há alguns anos como refúgio em alturas de introspecção, festas de aniversário, passagens de ano. Tranpuseram a porta e ao fechá-la atrás de si, fecharam também o mundo exterior.
Intrigavam-na os dois cestos de verga que ele trouxera no porta-bagagens. Junto a eles também uma pequena mala de couro preto que ele costumava utilizar em curtas deslocações de trabalho.
Seguiu-o até à cozinha espaçosa e iluminada. Desvendaram-se ali os mistérios: mantimentos religiosamente escolhidos na prateleira de produtos finos e mais caros. Champagne, patês, ostras em gelo, caviar, tostas, morangos gigantes. Ligía sorriu. Sentiu-se no meio de uma cena de um filme que tinha apenas sonhado.

(continua...)

Episódio XXI (1ª Parte) - Dia dos Namorados

Acordou tarde. Esfregou os olhos e espreguiçou-se, sentada na cama. Ele já não estava deitado. Sorriu quando viu um cartão em cima da mesinha de cabeceira. O cartão tinha um coração pequenino no canto inferior direito:
"...bom dia, deusa !
...veste a roupa que escolhi para ti...quero-te mais doce, bonita e sensual do que alguma vez te sentiste...
...vem ter comigo ao jardim...estou no nosso banco...
..Beijos..."
Em cima da cadeira estava o conjunto branco que ele tanto gostava de lhe ver: calças e casaco. Dobrada, a t-shirt vermelha, justinha que, normalmente acompanhava o conjunto.
Encontrou-o no banco, 30 minutos depois. Ele ao vê-la a aproximar-se, levantou-se e dirigiu-se a ela com uma rosa vermelha na mão. Abraçou-a pela cintura com um braço e beijou-lhe a boca demoradamente. Ela sentiu o chão fugir-lhe debaixo dos pés. Pegou na rosa e caminharam até ao carro. Não perguntou onde a levava. Com ele iria até ao fim do mundo.

(continua..)

11/02/2004

Episódio XX - Dor

Às vezes pensava na morte.Ligía confrontava-se de quando em vez com pensamentos obscuros sobre o fim. O fim de tudo.
Nesses momentos prendia-se com unhas e dentes à vida porque não queria que a felicidade acabasse.Ficava com medo.

Tinha muito amor, muita paixão, muitos beijos e carinhos...tudo guardado num "cofre" que abria de tempos a tempos...às pessoas de quem realmente gostava.

Impossível perder a oportunidade de distribuir a maior fortuna que possuía...

10/02/2004

Episódio XIX - Poema

Sou um rio
Sou uma ponte
Sou um barco

Sou voz
Sou sentimento
Sou dor

Sou minha
Sou tua
Sou eternidade

Epsiódio XVIII - Vitória

Passeavam na praia. De pés descalços sentiam a espuma das ondas que morriam na areia. A lua brilhante e cheia iluminava a água que era um mar de prata. Às vezes ficavam assim, longos minutos, a sorver a energia do Oceano, de mãos dadas...

Lígia acreditava que no universo existisse uma alma gémea de cada ser humano. Difícil era que numa só vida estas duas almas se encontrassem.Quando olhava para ele, sorria vitoriosa...

29/01/2004

Episódio XVII - Perfeição

A luz das velas acesas em cada mesa, a música suave, o sussurrar das conversas, o jantar delicioso, o vinho feito néctar dos Deuses...Era a noite perfeita. Lígia sentia-se feliz por estar ali com ele, numa cumplicidade de amantes, a trocar segredos, a provarem a comida um do outro, a unirem as mãos de quando em vez como quem faz amor roçando apenas as pontas dos dedos.
Ele contemplava-a extasiado e bebia-lhe as palavras, o riso e a ternura do olhar.Juraria que a havia conhecido apenas naquela noite.À saída vestiu-lhe o casaco. Fê-lo lentamente, virados para um espelho junto à porta. Nesse gesto olhou a imagem reflectida à sua frente. Os dois. A imagem perfeita. Eram a metade um do outro...

Episódio XVI - Tempo

A paixão de Lígia vivia na naquela altura o auge. Os sonhos que acalentara com tanto fervor eram agora uma certeza materializada.Ele excedia-se em carinhos e atenções e ela, como sempre, era a mais dedicada e fogosa amante.
Com esforço fazia perdurar cada beijo, cada gesto, cada palavra e tudo adquiria outra forma de contagem: os minutos duravam horas e as horas duravam dias.
Ela guardaria no seu coração este segredo de saber como fazer parar o tempo....

27/01/2004

Episódio XV - Água

O dia tinha corrido mal: o trabalho acumulado...os deadlines impostos pelo chefe carrancudo e frustrado...as conversas monótonas, repetidas e amorfas das colegas...o almoço insípido...
Lígia quase agradeceu aos céus o facto de estar sozinha nessa noite. Aproveitaria para descansar, tomar um banho longo e relaxante, e dormir...muito.
Já em casa e com uma música suave de fundo (o som ambiente tinha sido uma boa opção...) dirigiu-se para o quarto onde preparou a roupa para o dia seguinte e entrou na casa de banho. Fechou a porta atrás de si e abriu a torneia da água quente. Despejou na banheira um frasco inteiro de sais. Entrou na água quentinha e perfumada como quem se prepara para nascer de novo. Encostou a cabeça e fechou os olhos...
Não se assustou quando ouviu a porta a abrir...Abriu os olhos por segundos e tornou a fechá-los..Ele sorria, quase enternecido, com a visão do quadro que estava perante si. Inclinou-se devagar e beijou-a na boca. O beijo demorou-se, os braços dela fecharam-se no pescoço dele. O desejo, como um rastilho, espalhou-se pelos corpos, tomando de assalto os sentidos todos. As roupas dele voaram num ápice. Foi a vez de ele se encostar. Inclinada sobre ele, beijou-o na boca, no pescoço, no peito. As mãos dela incontroláveis passeavam pelo corpo dele numa viagem vagarosa e perturbante. Um movimento do pé dele abriu a tampa do ralo da banheira. A água desaparecia e mostrava cada vez mais os contornos dos corpos molhados e plenos de vontade.
A boca dela percorria extasiada os caminhos que encontrava...e desceu marota e certeira até ao baixo ventre. Ecoou no ar um gemido surdo e ele pousou as mãos na cabeça dela. A boca, a língua, os lábios dela apoderaram-se do sexo dele com uma voracidade sensual, uma discreta mas sábia forma de manobrar, uma capacidade inegável de fazê-lo atingir o prazer máximo traduzido num murmúrio prolongado e num espasmo libertador e orgásmico...

21/01/2004

Episódio XIV - Toque

Os dedos dele percorriam devagar as pernas delas. As mãos abriam-se pouco a pouco, suavemente, à medida que subiam, acariciando cada curva, cada centímetro de pele. Enquanto o fazia falava com ela muito baixinho, quase imperceptível:
- Gosto muito de ti. De ti toda. Desejo-te, sonho contigo quando não estás ao pé de mim.Gosto de ti. Do teu corpo. Da forma pura como te entregas ao prazer. Gosto quando te ris.
Ela fechou os olhos e abandonou-se..mais uma vez...
A espaços, a boca dele mergulhava na barriga dela e deixava um rasto torturante de saliva mas sem nunca tocar o sexo. Quando as mãos fortes seguraram as ancas, puxou-a para ele e com a língua possuiu-a, sem pedir licença.Com um sentimento de posse absoluta e inequívoca sobre a mulher a quem naquele instante provocou um orgasmo como ela nunca tinha sentido...

20/01/2004

Episódio XIII - À medida

As mãos dele eram conchas...onde ela cabia, perfeita, e descansava sem sobressaltos...

Episódio XII - Excitação

Estavam ambos na sala. A televisão debitava notícias.Naquela noite ela havia cozinhado e agora bebiam o café calmamente como se fossem marido e mulher, embrenhados numa conversa banal e sem importância.
De súbito, ele pousou a chávena na mesinha e olhou minunciosamente para ela. Era tão embaraçoso aquele olhar e ao mesmo tempo tão excitante...Pediu-lhe que pousasse também ela a chávena e que se sentasse mais confortavelmente no sofá pequeno. Como sempre, Lígia fez o que ele pediu, sem protestar. Deixou cair o corpo reclinando-se.
Ele começou a falar devagar, com muitas pausas e muitas reticências usando um tom grave e convincente:
- Despe-te...sem olhares para o teu corpo...uma peça de cada vez....
- Fixa os meus olhos e a minha voz...não vejas nem ouças mais nada. Neste momento o mundo é aqui, nesta sala, eu e tu...
- Gosto do teu corpo, dos teus gestos tímidos, da tua insegurança...
- Acaricia-te...admira-te...excita-te...
Ela cumpria escrupulosamente as indicações dele. Sem protestos. Com prazer. Com um sorriso de lúxuria. Sentia-se viva, quente, o sexo húmido que pedia mais.
- Não te masturbes. Quero apenas que fiques nesse limbo...de querer mais...de desejar tudo...louca de vontade...Quero sonhar-te assim...

14/01/2004

Episódio XI - Sexo

O dedo indicador desceu pela espinha dorsal, incisivo, por cima da camisa branca, justa ao corpo.Ela estremeceu de vontade de se dar por inteiro. Ao mesmo tempo a boca dele procurou a dela e entreabertas uniram-se e as línguas tocaram-se...A mão dele, segura e certa na força que empregava, puxou-lhe uma madeixa de cabelo junto à nuca e assim ficou durante o beijo prolongado e quente.
Moveu as mãos na direcção do peito dela e desapertou-lhe a camisa. A cabeça desceu para junto do peito, perfeito e duro, cuja visão o inquietou, despertando-lhe ainda mais a vontade de a ter naquele instante. Libertou-a e libertou-se da roupa que impedia os movimentos desejados. Rodeou-a com um braço pela cintura, sussurrou-lhe ao ouvido: "...prometo que não te magoo.."e penetrou-a, fundo, de uma só vez...

09/01/2004

Episódio X - Para sempre

A manhã clareava, cinzenta e fria e, no entanto, tão clara e magnífica. Pegou numa folha feita de ar e escreveu com uma tinta invísivel:

..."Fechei os olhos e estou agora voltada para dentro de nós. Não quero tornar a abri-los. Ficarei assim para sempre...O amor que sinto por ti é tão absurdamente imenso que se torna impronunciácel. És o meu céu...."

07/01/2004

Episódio IX - Desespero

O copo de gin quente, intocado, pousado e esquecido na beira da mesa. Um cigarro a meio, sorvido longamente e de uma maneira nervosa. As palavras duras, gritadas da porta e tão violentas que doíam ainda no corpo dela:"...SINTO QUE POUCO A POUCO ME ROUBAS A ALMA, ENTENDES? E NÃO QUERO QUE ISSO ACONTEÇA!"

... Ele tinha enlouquecido...decerto...

Tinham feito amor ao fim da tarde. Um amor calmo e com vagar como são os fins de tarde no Verão. Uma doçura quente feita carícias e prazer. Tinham dado as mãos enquanto trocavam sonhos. Tinham explorado recantos nos corpos com risos cúmplices. Foi um amor como nunca havia sido antes. Arrebatador. Dir-se-ia... perfeito.

Chorou toda a noite sem saber se voltaria a vê-lo...

29/12/2003

Episódio VIII - Calafrio

O olhar dele, quente e sedutor, despertava nela desejos incontroláveis. Antecipava em pensamentos irrequietos os minutos da posse..orgasmos mentais impossíveis de descodificar. O mundo parava e a mente corria veloz contrariando o movimento do universo. Avançava para ele com um sorriso, as mãos colavam-se ao pescoço e a boca na boca dele: "...dá-me tudo..."
Nele bebia a juventude, a força, a forma de estar e de comunicar. Conseguiria ficar assim, eternamente, a roubar-lhe a alma.
E depois...o toque macio dos lábios, a doçura da língua, o respirar quente, a pujança do sexo que sentia com um roçar da mão..fugaz e leve...